Pia Arke

Vista das obras de [view of the artworks by] Pia Arke na [at the] 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
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Vista das obras de [view of the artworks by] Pia Arke na [at the] 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Vista das obras de [view of the artworks by] Pia Arke na [at the] 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Vista das obras de [view of the artworks by] Pia Arke na [at the] 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
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Vista das obras de [view of the artworks by] Pia Arke na [at the] 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Vista das obras de [view of the artworks by] Pia Arke na [at the] 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Não é por acaso que as obras e escritos de Pia Arke (1958, Ittoqqortoormiit, Groenlândia2007, Copenhague, Dinamarca) estão centrados nas consequências das relações coloniais entre a Dinamarca e a Groenlândia. Filha de pai dinamarquês e mãe groenlandesa, Arke passou a infância na Groenlândia sem aprender a falar a língua local. As preocupações da artista com os estereótipos ocidentais da identidade e cultura inuíte já estavam presentes em seu mestrado em Belas Artes sobre etnoestética (1995). Em sua obra, Arke combinou sua própria imagem e herança miscigenada com referências históricas e geopolíticas para abordar as relações de poder entre a Dinamarca e a Groenlândia, bem como os problemas de identidade que surgem da exploração colonial. 

Por meio de sua prática conceitual e performática, Arke deu um novo significado a materiais apropriados, como fotos de sua mãe tiradas pelo pai, mapas anotados, roupas tradicionais, objetos encontrados nas proximidades de uma base militar, diários e fotos de exploradores nórdicos. Seu corpo e seu rosto – em si mesmos carregados da história da representação étnica – e marcos naturais da Groenlândia são temas recorrentes para sua câmera pinhole de grande formato e suas fotografias de dupla exposição, nas quais se justapõem diferentes camadas de realidade negociada.

A seleção de trabalhos na 34ª Bienal inclui seu vídeo intitulado Arktisk hysteri [Histeria ártica] (1996), em referência a uma doença mental de que as mulheres inuítes supostamente sofriam. O vídeo silencioso de 6 minutos mostra a artista rastejando nua sobre uma fotografia em preto e branco de Nuugaarsuk Point, local em que ela morava quando criança e que está presente em muitas de suas obras. Nesta peça, a montanha, plana no chão, é amassada, afagada e farejada por Arke, até que ela rasga a foto em tiras e deixa os fragmentos de papel deslizarem sobre seus ombros, num momento de estranha intimidade com a superfície que antes recebia a paisagem representada. Nuugaarsuk Point também serve como pano de fundo em uma longa série de autorretratos e retratos de grupos. Na Bienal, a paisagem também pode ser vista atrás da silhueta de um carro, em uma das séries de obras que retratam objetos sem nomes na língua groenlandesa antes da colonização.

Talvez menos característico dos procedimentos e resultados artísticos de Arke, Jord til Scoresbysund [Solo para Scoresbysund] (1998) é uma instalação composta por 151 filtros de café amarrados com cordões e dispostos como um quadrado no chão. A obra está ligada a uma das estadias da artista em Scoresbysund, quando sua cunhada lhe disse que a borra de café deveria ser jogada pela janela para fertilizar o solo pedregoso. Se em sua origem a instalação se refere a "toda a ideia do direito da Dinamarca ao subterrâneo da Groenlândia", como Arke escreveu uma vez em uma carta, em São Paulo, uma cidade construída sobre os lucros das plantações de café, novas camadas de leituras cercarão essa forma geométrica imperfeita e o cheiro que ela exala.



Apoio: Nordic Culture Fund and Danish Arts Foundation

  1. Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
  2. Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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